domingo, 16 de setembro de 2012

A nova música pernambucana

 
No dia 27 de agosto li uma reportagem no caderno Programa, da Folha de Pernambuco, sobre a iniciativa de China, cantor, compositor e agora VJ da MTV, e Homero Basílio, sócios do Estúdio das Cavernas e do selo Joinha Records, de abrir espaço para novos talentos da música pernambucana através do projeto “Novas Jóias”.
 
Haverá uma análise dos vídeos enviados para a página do Joinha Records no facebook (infelizmente, leitor, leitora do Cabeça, se você desenvolve algum projeto e se interessou, as inscrições foram até ontem) e os vencedores passarão a fazer parte do casting do selo, além de contar com apoio logístico (gravação de um disco no estúdio da dupla, videoclipes e shows) para darem os primeiros passos no show business.
Para Homero Basílio, um dos idealizadores do projeto, “essa iniciativa é importante tanto para os músicos quanto para a cena musical da Cidade, pois busca uma renovação deste panorama. Além de ser uma alternativa aos editais públicos que, muitas vezes, acabam sendo o único caminho que o artista encontra para gravar seu disco”.
Ao ler essa reportagem me veio a ideia de começar a discutir sobre arte através da música. Quatro razões me levaram a começar pela música e não pelas histórias em quadrinhos ou cinema, duas outras linguagens artísticas que me proporcionam experiências estéticas mais intensas e significativas. 
A primeira é que desde a pré-adolescência a música tem representado para mim um momento de transcendência, de superação das minhas angústias, dúvidas e incertezas, possibilitando um estado de plenitude. Costumo dizer que através da música me aproximo do Ser de forma mais rápida e intensa do que a Filosofia. É aquela coisa, a Filosofia é um conhecimento mediado pala razão, há todo um trabalho de construção conceitual, onde ideias vão sendo elaboradas, reunidas (ou afastadas) em categorias, formando verdadeiros sistemas conceituais sobre algum aspecto da realidade que se apresenta problemático, duvidoso ou encantador. Só depois de muito labor intelectual é que os filósofos se aproximam do que seria o "ser"  das coisas. Já com a música é diferente. Quando ouço uma composição (aqui me refiro à música, ou seja, a parte instrumental da canção, o que, obviamente inclui a voz, e não à letra) ou quando toco, por alguns instantes a singularidade da minha existência é suspensa e eu experimento um estado de completude, como se por algum momento eu passasse a fazer parte do todo, como se eu e o universo fossemos um e a mesma coisa. "Doidera", né, galera? É nada! É só um exercício de aprimoramento estético!
A segunda é que darei aos meus estudos um corte histórico. Como  a música é, segundo os estudiosos, uma das primeiras manifestações artísticas, começarei minha viagem pelo universo artístico pela linguagem que utiliza o som e o silêncio como expressão.
A terceira razão é que, não é pelo fato de ser pernambucano (ou melhor, é também!), mas considero a música feita no estado onde nasceram Chico Science e a galera da Nação Zumbi uma das mais criativas do mundo. Como  o espírito do Cabeça também é ser uma plataforma onde sistematizerei meus estudos dentro das áreas que despertam meu interesse (como a arte em geral e a música em particular) e como gosto muito do som feito aqui, resolvi fazer um mapeamento do que tá rolando de interesse na atual "cena" musical pernambucana.
Por último, e não menos importante, sou professor. E como vocês sabem, o professor tem que ter, além dos saberes e competências da profissão (conhecimentos da sua área específica e da pedagogia), uma formação cultural mais ampla, o que inclui sua formação ética, política e estética. Esse é um excelente momento para investir no meu desenvolvimento estético, que estava um tanto quanto adormecido devido aos sete anos de trabalho alienado do qual fui vítima até 2011.  Além disso, é uma forma de colaborar com a ampliação das referências  musicais de vários amigos e amigas professores e professoras, ainda presos aos clássicos Alceu Valença, Geraldo Azevedo (que têm um trabalho muito criativo no início de suas carreiras, depois transformado em atividade rotineira  e, quando muito, Chico Science  (que por sinal, gosto bastante de todos eles, os dois primeiros, principalmente, no início de suas carreiras).  
Apresentadas minhas motivações, se me permitem, gostaria de fazer alguns esclarecimentos. O lugar de onde falo é de amador (aquele que ama) da música. Nunca estudei música, apenas procurei me informar sobre o vocabulário básico dessa forma de expressão para poder compreender, ainda que minimamente, seus códigos. Portanto, minhas escolhas se fundamentam mais na intuição e na sensibilidade (e nas condições, técnicas e procedimentais, de acesso) do que na razão.  As bandas que julgo interessantes, apesar de bastante heterogêneas, têm algo em comum: todas são, de acordo com meus critérios (intuitivos, como falei acima) criativos e originais. Entendo que uma composição é criativa e original quando seu autor/autora, mesmo partindo de gêneros e estilos já existentes, se apodera de uma (ou várias) linguagem musical e consegue expressar uma fala (ou seja, um discurso) própria, autônoma, para além dos cânones impostos pela indústria cultural. 
Bem é isso, mais sobre arte e música na página AISTHESIS. E enquanto a nova "jóia" da música pernambucana não aparece, por que não mapear o que tem rolado de mais interessante na atual safra da música ou feita aqui no estado ou relacionada, de alguma forma, aos ritmos feitos como no caso das últimas dicas, que tenha alguma relação com nossa terra.   
Uma última coisa: as páginas MÉDIA MÍDIA e  (CONS)CIÊNCIA E TECNOLOGIA começarão a ser movimentadas nos próximos dois domingos, respectivamente. 
Sem mais delongas, fiquem com a nova safra da música pernambucana!
 
Comecemos pelo projeto Grupo de Música Aberta, idelizado por Areia, contrabaixista da Mundo Livre S/A e produtor musical. Achei bem interessante o diálogo entre bateria, sax, acordeon e contrabaixo. Abaixo um tributo ao compositor e guitarrista português Carlos Paredes. Essa música e vídeo foram gravados no Estúdio Das Cavernas, citado por mim no início da postagem. O Grupo de Música Aberta é formado por Cássio Cunha na bateria, Ivan do Espírito Santo no saxofone, Julio Cesar no acordeon e Areia no contrabaixo. Mais sobre o trabalho de Areia no site http://www.musicareia.com/br/index.php.
 
 
 
 
 
Gravado entre os meses de março e agosto de 2007, o projeto CAFÉ PRETO, só agora, em 2012, foi lançado. Idealizado por Canibal, baixista e vocalista da banda de punk rock e hardcore, Devotos,  o trabalho se aproxima do dub e do ragga.  A mixagem ficou por conta de Victor Rice, nova-iorquino responsável pelo "The Dub Side of the Moon", releitura dub do clássico "Dark Side of the Moon", feita pelo Easy Star All-Stars, do Pink Floyd. Fred Zeroquatro e Areia (mundo livre s/a), Chico Tchê, Publius, Ori, Marcelo Campello, Berna Vieira e Zé Brown, além do carioca Ras Bernardo, colaboraram o projeto. No endereço http://cafepreto.mus.br/ dá pra baixar o disco. Abaixo Café Preto trechos do ensaio, da passagem de Som  e do show de lançamento no UK Pub, Recife, PE.
 
 
 
 
 
Continuando nos ritmos vindos da terra de Bob Marley, a próxima dica é a banda Ska Maria Pastora. Formada por Deco do Trombone, Leo Oroska (percussão), Sanzyo Dub (bateria), Vítor Magall e Jayme Monteiro (guitarras), Valdir Pereira (baixo) e Leo Vinesof (teclado). A banda conta ainda  as participações especiais de Fabinho Costa (trompete), Nilsinho Amarante (trombone) e Parrô Mello e Rafinha (saxofones). "As margens da Rio Doce", disco lançado esse ano, dá continuidade ao trabalho da banda depois do elogiado EP,  lançado em 2008. No novo trabalho  a banda traz composições autorais e dois clássicos do frevo pernambucano, ‘Cabelo de fogo’ e ‘Elefante de Olinda’. Essa última vocês conferem abaixo. 
 
 

 
 
Sasquat é filho de Bugão, respeitado técnico de som do país, e irmão de Buguinha Dub, produtor  e músico que já trabalhou com nomes como Chico Science e Nação Zumbi, Mundo livre S/A, Lucas Santtana, Planta e Raíz, entre outros. Com os amigos Hugo Carranca (bateria), Igor San (baixo) e com produção de Buguinha Dub,  gravou o disco "Alfazema". Nele os músicos passeiam pelo sambarock, afrobeat, trip hop, guaracha. No site http://www.sasquatman.com.br/   dá para ouvir, baixar e/ou comprar o disco. Abaixo a música "como você".
 
 

 

 
A Orquestra contemporânea de Olinda (OCO) desde que lançou seu primeiro e homônimo disco, em 2008, só viu crescer sua credibilidade. Indicada ao Grammy Latino 2009, na categoria de 'Melhor Álbum de Música Regional Brasileira,  show considerado um dos melhores de 2008, ficando em 2° entre os nacionais, segundo o jornal O Globo e finalista da categoria regional do Prêmio da Música Brasileira 2009, a OCO lançou esse ano seu segundo álbúm, "Só pra ficar". O trabalho contou com a produção de Arto Lindsay e mostra a banda se equilibrandp entre o frevo, a fanfarra e o pop. Abaixo, a banda ao vivo com prticipação de Arto Lindsay. 
 

 
 
 
Finalizando esse meu pequeno mapeamento sobre a atual produção musical feita em e/ou com alguma referência à minha terra, Pernambuco, deixando vocês com um dos melhores discos que ouvi esse ano dentro do cenário pop: o álbum "Introdução à cortina do sotão", lançado em 2011, da banda curitibana ruído/mm (ruído por milímetro). A razão da banda formada por Giovani “Giva” Farina (bateria), Alexandre Liblik (piano), Rafael Panke (baixo), Ricardo “Pill” Oliveira (guitarra) e André Ramiro (guitarra) está presente aqui é porque no próximo sábado haverá show aqui no Recife, no festival No Ar Coquetel Molotov. Fica aí a dica para quem gosta de sonoridades experimentais, indo do jazz ao punk, passando pela psicodeia, post rock e até tango. No site da banda, o http://www.ruidopormilimetro.com/, dá para baixar o trabalho mais recente e materiais anteriores. Fiquem com o vídeo da música "o prestidigitador", do disco mais recente.
 
 
 
 

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